sábado, 18 de abril de 2015

Como Evitar cair na Armadilha do Dividendo?

Bianca Leão: certamente é uma das mais tops que já marcaram presença neste humilde espaço!

Caros discípulos d'El Rei,

Um dos múltiplos mais comentados em sites e fórum e, por isso mesmo, um dos mais utilizados por sardinhas alopradas para justificar investimentos ruins é Dividend Yield (DY). Esse índice nada mais é que uma fórmula matemática simples que representa o retorno percentual dos dividendos em relação ao preço da ação.

DY = Dividendos anuais/preço da ação

Por ser uma divisão, o DY deve ser interpretado com cautela. Aquele DY de 20% é consistente? De onde vem o dinheiro para o pagamento? O DY é alto por que o preço da ação caiu ou por que os lucros aumentaram (o DY é uma fração!)? Tem não-recorrente no resultado? Ou a empresa está nadando em dinheiro e resolveu distribuir? Quase sempre esses questionamentos não são feitos pelo pequeno investidor e ele acaba achando que os dividendos são um almoço grátis. O resultado pode ser desastroso, especialmente se vier acompanhado de uma inadequada diversificação de ativos. Para reduzir a chance de cair na armadilha do dividendo - dividend yield trap -, alguns especialistas aconselham o investidor a seguir algumas dicas básicas.


1) Cuidado com empresas endividadas

Os dividendos devem vir dos lucros e isso é algo intuitivo. Se uma empresa começa a a se endividar, mas não reduz a política de pagamentos de dividendos, isso pode ser um mau sinal. A empresa vai recorrer à emissão de dívidas mais caras quando poderia se utilizar dos lucros gerados por sua atividade operacional para se financiar. Isso pode gerar resultados terríveis. Petrobrás é um bom exemplo. Também não vejo Natura com bons olhos após a emissão de debêntures que ocorreu em março para reforço de capital de giro.

2) Cuidado com ações em tendência prolongada de baixa

Conforme mencionado acima, uma queda na cotação de um papel aumenta o DY pago pelo mesmo. Ao invés de comprar às cegas, o investidor deve investigar a fundo o motivo dessa queda. O DY atual é um dado passado, mas o mercado também trabalha antecipando possíveis cenários futuros. Ou seja, quedas prolongadas nas cotações quase sempre são o prenúncio de cenários difíceis pela frente. E quando o lucro cai, o DY vai atrás. Apesar de não serem ações, os FIIs ilustram bem esse caso. Muita gente comemorando queda nas quotas, pois assim o rendimento dos aluguéis será maior. Será que é para ficar feliz investindo grana num FII com yield mensal de 1%, mas que o valor do principal não para de despencar? Será que o mercado é bobo por pagar 1% am sem nenhum risco? E a governança desses FIIs? E o histórico consistente (a maioria dos FIIs é jovem)? Ainda não conheço a fundo esses ativos, mas fico assustado quando vejo gente com 70% do capital alocado neles.

3) Cuidado com receitas não-recorrentes ou resultados atípicos

Não basta ir para o final da demonstração do resultado e olhar o lucro. É muito comum uma empresa apresentar resultados não-operacionais (venda de um bem do ativo imobilizado), receitas operacionais acima do previsto devido a condições passageiras do mercado (como um incentivo fiscal, por exemplo) ou reversão de provisões. Essas receitas atípicas certamente irão distorcer o DY para cima. Observe se o payout é maior do que 100%, pois não há como uma empresa pagar dividendos maiores que o lucro de forma sustentável por anos. Aqui, mais do que nunca, vale a regra da consistência histórica de resultados. É mais um motivo para evitar ações novatas ou, pelo menos, entrar nelas de forma gradativa e em pequenos aportes.

Conclusão: Não olhe para o DY como dado isolado

É comum encontrar matérias na internet sobre pessoas afirmando que investem em ações para viver de dividendos. Já comentei sobre o assunto no post "Dividendos: É possível viver deles?". Será que uma empresa com DY de 15% aa vai gerar caixa suficiente para o pagamento dos dividendos futuros? E a dívida dela está mesmo sob controle? Ela possui muitas obrigações de curto prazo? Não é melhor investir numa empresa que paga DY de 5% aa com lucros crescente do que arriscar ser sócio de outra que paga 20% aa com lucros em queda livre? Empresas com fundamentos em processo de deterioração podem ver a cotação de suas ações cair, o que aumentará o DY momentaneamente (lembre-se que o DY é uma divisão e a cotação é o denominador!). Porém, como os fundamentos estão piorando, provavelmente os dividendos futuros serão reduzidos ou cortados por conta da queda nos lucros. É justamente nesse momento que o investidor desatento leva um belo 3-hit combo de perdas: não recebe o dividendo prometido, vê a cotação despencar e corroer o principal e tem que arcar com o custo de oportunidade da má escolha.

O choro é livre!
E você? Tem mais algum critério para não cair na armadilha do dividendo?

Fontes:





18 comentários:

  1. Olhar para o DY isolado... Lembro-me desses tempos com a ELPL4 e o primeiro coça que recebi. HAhahahaha

    PS: Maquiavel é vida, e Godsmack é deus. :D

    Uta!

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    1. Nobre Estagiário, seu gosto musical é excelente! Obrigado por honrar este espaço!

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  2. Troll e CEMIG, geti, acha que vão continuar com essa boa distribuição ?

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    1. Não há como prever, nobre anônimo. O negócio é ir acompanhando os resultados.

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  3. Eter3 entrei somente visando o DY dai então me fudi, a Bosta só cai rumo ao inferno.
    Viver de dividendo é pura ilusão.

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    1. Não é ilusão, mas há que se saber onde estamos pisando sempre.

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  4. Tá dificil encontrar boas pagadoras de dividendos nesta nossa bolsa...

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  5. Troll pensei que o post era pra ensinar a não cair na conversa do Dividendos o blogueiro, como você caiu naquela história do termo. Kkkkk

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  6. Maria eu sei que você treme!

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  7. Daqui a pouco vou começar a postar sobre avaliação de empresas pagadoras de dividendos no exterior.

    O yield por si só já foi muito usado no passado, mas agora há outros fatores que devem ser avaliados como sustentabilidade e crescimento dos dividendos.

    Abçs!

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    1. Será mui interessante acompanhar sua série de posts, pois não há nada assim na Blogosfera.

      Um abraço!

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